sábado, 23 de janeiro de 2010

domingo, 17 de janeiro de 2010

ENTARDECER


CANÇÃO

Fábio Montenegro
(1891-1920)

Quero dar ao meu verso uma guirlanda real,

Um brilho adamantino, uma impecável forma:

- Ó rapariga suave! A harmonia por norma

Deu-me teu riso de cristal.



Na túnica da treva, a minha vida escura

Precisa orlar de luz os pérfidos escolhos:

- Santa! Engolfa o meu ser na doce iluminura

Que vem da aurora dos teus olhos!



Sedento pescador, de ressábio em ressábio,

No oceano do ideal, não acho o que desejo:

- Santa! Chega o meu lábio à concha do teu lábio,

Eu quero a pérola do teu beijo!



Fatigado viajor, sobre areento solo,

De uma aventura empós, anseio mil desvelos

- Santa! Dá-me a frescura augusta do teu colo,

Dá-me o dossel dos teus cabelos!



Cavaleiro do Amor, em noites luarinas,

Por vereda que a brisa ao vir da noite, embala,

O que busco, sorrindo às sebes e às boninas,

É a tua imagem de Magdala!

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Cantigas Praianas, 25/08/2006

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Avenida Ana Costa - Praia do Gonzaga


INSTANTE

Narciso de Andrade

faz de conta que esta lua não existe

faz de conta que esta noite já é ontem

faz de conta que este instante já passou

pensa que não podemos perder tempo

que é tudo muito tarde

e as coisas que estão por acontecer

são passado e estão desfeitas.



continuar andando nestas areias

recolhendo estilhaços de estrelas

enquanto o tempo vai marcando

o ritmo decadente de nossos passos.



tudo é alegria quando pouco é possível

tudo é alegria quando nos encontramos

desesperadamente perdidos

sem contrastes a vida não tem sentido

monótona sucessão de fracassos

desencantos e desesperos

tudo é alegria quando nada mais é possível.



faz de conta que estou dizendo a verdade

e que é mentira esta louca vontade de chorar

esta lua não existe

esta noite já é ontem

este instante já passou.

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Cantigas Praianas, 28/07/2006

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Gonzaga - Santos/SP - Ciclovia



"Não, poeta. O mundo melhor que sonhamos

depende de nossa mão.

Procuro tua mão nas esquinas.

Procuro tua voz. Não estás.

Que esperas para gritar?"

Roldão Mendes Rosa (Carta a um poeta)

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http://geocities.ws/maniadeler_1/cantigaspraianas.html#Nossos%20poetas

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PRAIA DO GONZAGA - Santos/SP


ENTARDECER
J. de Castro

Na tarde morna, pelo céu em festa,
Perpassa um grito, que se perde longe...
Há mil perfumes de tomilho e giesta,
E o monte enverga seu burel de monge.

Uma após outra, as irmãs estrelas
Abrem, muito alto, como olhitos piscos,...
Bailam cantigas, pelo ar, singelas,
e o gado manso, torna aos seus apriscos.

Pela janela francamente aberta
Coam-se vozes _ rezas de humildades _
Descem perfumes de malvaísco em flor...

Mas tudo cala (só o amor desperta),
Quando na torre batem as Trindades...
Hora divina de saudade e amor!...

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