SER SANTISTA
Fábio Brunelli
Fábio Brunelli
Ser santista, mais que um indicativo do nascimento, é um estado de espírito. É poder entrar na padaria, pedir duas médias e ter a tranqüilidade de que virão dois pães. Ali mesmo, naquela padaria ao lado da linha da máquina, que linha férrea é coisa de pernóstico.É pegar praia no Joinville e poder dizer naturalmente que mora no Canal 3 ou 4, tamanha a identidade urbanística que temos com os canais.
Ser santista é não precisar marcar encontro com amigos, porque é mais fácil vê-los numa caminhada na praia, principalmente no verão, quando o horário modificado permite aquele mar de gente aproveitando a natureza, sem vergonha dos prédios tortos da orla.
Ser santista é poder descobrir um sessentão, perguntando a ele se chegou a pular do trampolim da Ponta da Praia, ou desmascarar uma quarentona, se ela disser que conheceu os jardins do Hotel Parque Balneário, antes do crime que fizeram com ele.
É lamentar a demolição da casa e do jardim da Lydia Federici, e pelo menos saber que a Pinacoteca, ali pertinho, hoje está uma beleza, apesar do medo que tivemos quando virou um esquecido casarão abandonado. Ser santista é ter saudade do Reciclagem, e das boas noites de jazz no Bar da Praia.
Todo santista que se preze tem foto no Orquidário, no leão em frente ao antigo Clube XV, os bailes de debutantes no XV, no Internacional e mais tarde no Tênis clube e se procurar bem no baú vai encontrar uma foto desbotada possivelmente ridícula num enorme cisne à beira-mar.
Por falar em Clube XV , quem não teve a grata sensação de sair de sua piscina e ver dali mesmo a orla da praia? Ah, a praia... é um capítulo à parte. Sentimos um prazer indescritível ao caminhar pelo jardim, sem saber se contemplamos a exuberância do verde (de preferência, com aquele cheiro gostoso da grama recém cortada), ou o azul do mar ao fundo. Ou, mais ao fundo, a Fortaleza da Barra Grande defendendo a entrada do estuário, tão ao gosto dos artistas anônimos que expõem seus quadros em frente ao Aquário.
Ser santista é comer um churro em frente aos clubes, e esperar a saída de navios. De tanto ver navios de passageiros, para os quais sempre acenamos, mesmo não conhecendo ninguém (o santista é muito simpático), sentimos um atavismo quase instintivo de um dia fazer um cruzeiro, por mais breve que seja. Dali, sentindo forte o cheiro do mar, vemos o sol se esconder atrás
da Fortaleza de Itaipú, prateando todo o mar da baía, lembrando a época dos passeios com a ''Loirinha''.
Santista que se preze tem um refúgio na montanha, para que, em janeiro, se possa emprestar a cidade aos turistas (não somos egoístas) e fugir do calor melado. Não por acaso temos, como uma de nossas filiais, Santos do Jordão. E cuidado na estrada: santista não gosta quando mexem nas mãos da Anchieta/Imigrantes, porque o critério é sempre penalizá-lo. Paciência, às vezes abusam dessa estória da gente viver na terra da caridade e da fraternidade.
O santista legítimo jura de pé junto que existe, sim, um jacaré na Lagoa da Saudade, e sente falta das quermesses tranqüilas do Morro da Nova Cintra. Pela escadaria de outro morro, o Monte Serrat, muitos já pagaram promessas.
Ele sabe que D. Dorotéa não foi uma simples senhora que furou aquela onda, e lembra perfeitamente quem foi o Zé Macaco, além de ter na família pelo menos uma tia que acordou assustada naquela longínqua madrugada quando explodiu o gasômetro.
Santista mesmo, é óbvio, torce para o Santos Futebol Clube (é um dos traços do homem digno), e adora uma prosa descompromissada enquanto a bola rola na Vila.
O santista está radiante com a reinauguração do Coliseu, e gosta de tomarcafé na Bolsa, porque sabe seu valor. Ali, respira-se a pompa e a riqueza que o café nos legou - um orgulho que não se transmudou em arrogância (lembrou de algum vizinho?), mas um orgulho sereno, profundo e respeitoso, de quem se sente bem em poder continuar, de alguma forma, o trabalho dos
nossos antepassados.
Seguramente, não foi por nada disso que meu avô, lá pelas bandas de 1890, fez desse porto de escala seu destino final. Foi pela certeza cega e inexplicável - e que temos até hoje de que, como diz a canção: o melhor lugar do mundo é aqui.
Imagens do Google
Ser santista é não precisar marcar encontro com amigos, porque é mais fácil vê-los numa caminhada na praia, principalmente no verão, quando o horário modificado permite aquele mar de gente aproveitando a natureza, sem vergonha dos prédios tortos da orla.
Ser santista é poder descobrir um sessentão, perguntando a ele se chegou a pular do trampolim da Ponta da Praia, ou desmascarar uma quarentona, se ela disser que conheceu os jardins do Hotel Parque Balneário, antes do crime que fizeram com ele.
É lamentar a demolição da casa e do jardim da Lydia Federici, e pelo menos saber que a Pinacoteca, ali pertinho, hoje está uma beleza, apesar do medo que tivemos quando virou um esquecido casarão abandonado. Ser santista é ter saudade do Reciclagem, e das boas noites de jazz no Bar da Praia.
Todo santista que se preze tem foto no Orquidário, no leão em frente ao antigo Clube XV, os bailes de debutantes no XV, no Internacional e mais tarde no Tênis clube e se procurar bem no baú vai encontrar uma foto desbotada possivelmente ridícula num enorme cisne à beira-mar.
Por falar em Clube XV , quem não teve a grata sensação de sair de sua piscina e ver dali mesmo a orla da praia? Ah, a praia... é um capítulo à parte. Sentimos um prazer indescritível ao caminhar pelo jardim, sem saber se contemplamos a exuberância do verde (de preferência, com aquele cheiro gostoso da grama recém cortada), ou o azul do mar ao fundo. Ou, mais ao fundo, a Fortaleza da Barra Grande defendendo a entrada do estuário, tão ao gosto dos artistas anônimos que expõem seus quadros em frente ao Aquário.
Ser santista é comer um churro em frente aos clubes, e esperar a saída de navios. De tanto ver navios de passageiros, para os quais sempre acenamos, mesmo não conhecendo ninguém (o santista é muito simpático), sentimos um atavismo quase instintivo de um dia fazer um cruzeiro, por mais breve que seja. Dali, sentindo forte o cheiro do mar, vemos o sol se esconder atrás
da Fortaleza de Itaipú, prateando todo o mar da baía, lembrando a época dos passeios com a ''Loirinha''.
Santista que se preze tem um refúgio na montanha, para que, em janeiro, se possa emprestar a cidade aos turistas (não somos egoístas) e fugir do calor melado. Não por acaso temos, como uma de nossas filiais, Santos do Jordão. E cuidado na estrada: santista não gosta quando mexem nas mãos da Anchieta/Imigrantes, porque o critério é sempre penalizá-lo. Paciência, às vezes abusam dessa estória da gente viver na terra da caridade e da fraternidade.
O santista legítimo jura de pé junto que existe, sim, um jacaré na Lagoa da Saudade, e sente falta das quermesses tranqüilas do Morro da Nova Cintra. Pela escadaria de outro morro, o Monte Serrat, muitos já pagaram promessas.
Ele sabe que D. Dorotéa não foi uma simples senhora que furou aquela onda, e lembra perfeitamente quem foi o Zé Macaco, além de ter na família pelo menos uma tia que acordou assustada naquela longínqua madrugada quando explodiu o gasômetro.
Santista mesmo, é óbvio, torce para o Santos Futebol Clube (é um dos traços do homem digno), e adora uma prosa descompromissada enquanto a bola rola na Vila.
O santista está radiante com a reinauguração do Coliseu, e gosta de tomarcafé na Bolsa, porque sabe seu valor. Ali, respira-se a pompa e a riqueza que o café nos legou - um orgulho que não se transmudou em arrogância (lembrou de algum vizinho?), mas um orgulho sereno, profundo e respeitoso, de quem se sente bem em poder continuar, de alguma forma, o trabalho dos
nossos antepassados.
Seguramente, não foi por nada disso que meu avô, lá pelas bandas de 1890, fez desse porto de escala seu destino final. Foi pela certeza cega e inexplicável - e que temos até hoje de que, como diz a canção: o melhor lugar do mundo é aqui.
Imagens do Google
Nenhum comentário:
Postar um comentário