quinta-feira, 8 de abril de 2010

Poeta Paulo Gonçalves



Francisco de Paula Gonçalves, conhecido como Paulo Gonçalves, nascido em Santos a 2 de abril de 1897 e falecido em sua cidade natal a 8 de abril de 1927, foi poeta e dramaturgo brasileiro.

O texto a seguir foi transcrito de um manuscrito inédito, e demonstra a refinada sensibilidade e o lirismo poético de Paulo Gonçalves:

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De como nasci para a poesia

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Em menino, o meu maior enlevo era ver gravuras. Delirava de contentamento quando me levavam à igreja, a ver os vitrais e as imagens dos santos. Um dia, por suprema contemplação, meu pai consentiu que eu folheasse, depois de ensaboar devidamente as mãos, um Lusíadas enorme que havia em sua biblioteca, e que eu namorava em choros perenes. Tão demoradamente e com tanta volúpia contemplei as ilustrações da epopéia lusa que ainda hoje sei de cor. De todas, porém, a que mais me impressionou foi o retrato de Camões, no seu tabardo cor-de-rosa, todo em pregas, no colo a lira divinatória e um solene ar de domínio no olho único. Graças à paciência de meu pai, fiquei sabendo o sentido da palavra poeta e que a poesia era a linguagem dos deuses. Facilmente acreditei na veracidade da metáfora, pois já havia notado que em dias de festa em casa, enquanto alguém recitava, os ouvintes se perdiam em atitudes de êxtase. Meu pai se esqueceu de revelar-me o simbolismo da lira. Daí o perigo. Desabrochou-se n’alma o capricho de ser poeta, menos pelo orgulho do título que pela fascinação do encantado instrumento. Confesso de coração aberto que esse desejo não constituiu uma precoce revelação de gênio. Absolutamente. Não quero iludir a boa fé dos pósteros. Desejei uma lira como poderia desejar um espadim ou um cavalo de pau...

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Ora, dá-se o caso que, propiciando um idílio dominical aos namorados, havia no meu lugarejo uma filarmônica. Os músicos pareciam generais nas suas fardas oirejantes. O jardim ficava vedado por um gradil de ferro, onde por vezes me dependurava para assistir à passagem da banda; mas o povo ondeava, aberto em alas à minha frente, tapando os olhos curiosos. Só uma vez consegui vê-la, de perto, faiscante ao sol, no rigor da marcha marcial. Logo na primeira fila, vinha o tocador da lira, bigodudo e gordalhudo. Foi um espanto. Alei-me à casa:

- Papai, diga o nome de um poeta italiano.

- Poeta italiano... Dante.

- Pois eu vi Dante !

Meu pai, sorrindo, beijou-me a testa.

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O misterioso velhinho que, numa noite só, percorre todas as casas do mundo, a encher de brinquedos os sapatos das crianças, trouxe-me certa vez uma lira pequenina. E nunca atinei como é que se podiam arrancar versos das cordas...

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Como para as almas, há um ciclo para o sonho: hoje pago tributo ao delírio da infância. As cordas que espedacei espiritualizaram-se: saudade, amor e sofrimento. Desvendei o mistério da lira.

Antes não o soubesse...Paulo Gonçalves


"Cerca-me o mar: a quietação das vagas
Convida o pensamento a esvoaçar:
Tenho saudades! Ai, gaivotas brancas
Dizei-me se ainda há velas sobre o mar?
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Foi caminho do Sul! Era Manfredo
O louro sonhador, Byron mais moço!
Por que veio ele aqui? Quem busca a ilha
Em que percuta um grito de alvoroço?"

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Busto de Paulo Gonçalves

Paulo Gonçalves não mais tem letras no busto em sua homenagem, localizado no ajardinamento da Praia de Aparecida, na Av. Bartolomeu de Gusmão. Escultura de Guido Zampol, inaugurada em 1975.

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PESQUISA

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Gon%C3%A7alves

http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0318e.htm

http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0360m081.htm

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2 comentários:

ROSENI GONÇALVES disse...

Guida, sou sobrinha neta de Paulo Gonçalves, mas só há pouco tempo descobri quem ele foi.
Gostaria de saber se você possui mais material sobre a vida e a obra dele.

Muito obrigada!!!

Marcelo G. disse...

Sou sobrinho neto do Paulo Gonçalves. Neto do irmão do poeta, Manuel Alexandre Gonçalves Filho. Gostaria de saber mais sobre a Roseni Gonçalves, porque não identificamos, na família, o parentesco.
Agradeço por uma resposta, se possível.
Marcelo Gonçalves
marcelog59@gmail.com